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PRODUTO AGRÍCOLA -
A soja, atualmente, é a maior fonte de divisas para o Brasil. O chamado complexo soja -- que inclui o grão, o óleo e o farelo de soja -- foi responsável por vendas de mais de US$ 8 bilhões em 2003, representando mais de 26% das exportações do agronegócio. Os bons resultados econômicos dos últimos anos têm levado ao aumento da área plantada com essa leguminosa e sua produção. Evidentemente, é mais interessante ao país vender os produtos com maior valor agregado e, em função disso, o óleo de soja tem contribuído para o aumento de renda com as exportações do complexo soja, crescendo mais a taxa maior que o que o dobro do farelo de soja (9% vs. 4%, respectivamente) nos últimos 10 anos, ainda que pouco menos da metade do grão de soja, que cresceu neste mesmo período 17%. O farelo de soja é o subproduto da extração do óleo e também é bastante valorizado, com o mercado igualmente aquecido. Esse subproduto, na indústria de produção de óleo, sai logo após a extração do óleo com valores de proteína mais elevados que os níveis de garantia praticados no mercado. Para reduzir a proteína e uniformizar o seu valor conforme os níveis de garantia usuais, é usado outro subproduto da produção que é a casca da soja. Nos últimos tempos, o mercado aumentou a exigências de nível mínimo de proteína. Com isso, uma quantidade menor de inclusão de casca de soja começou a ser necessária para atingir o novo nível de garantia. Ao mesmo tempo, a geração da casca de soja aumentou em função da crescente produção de óleos e farelo.
A combinação de menor necessidade e maior produção resultou em aumento de disponibilidade deste alimento que tem, assim, constituindo-se em uma boa alternativa para a formulação de rações e suplementos para animais em pastejo. A casca de soja tem várias particularidades que a fazem um excelente substituto de fontes energéticas convencionais à base de amido (milho, sorgo, aveia, mandioca etc.). Além das vantagens nutricionais da sua inclusão, ela tem mostrado-se bastante competitiva do ponto de vista econômico, barateando concentrados e rações.
A casca de soja
A casca de soja corresponde à fina camada que recobre a semente, chamada pelos botânicos de tegumento, que é separada do grão previamente à extração do óleo. Por sua natureza de proteção, pode-se inferir que ela seja um alimento fibroso e, portanto, que contribui pouco com energia. Todavia, apesar de fibrosa, a casca de soja tem um tipo de fibra que é altamente digestível. Na tabela 1 (veja no final do texto como visualizar este artigo em PDF), pode-se observar que o componente com maior responsabilidade em reduzir a degradabilidade ruminal da fibra, a lignina, ocorre em valores baixos. A lignina é a responsável pela resistência das plantas à degradação por microrganismos, e por conferir resistência física.
O valor de nutrientes digestíveis totais seria próximo ao de forragens de boa qualidade. Isso ocorre pois, além da lignina ser baixa, uma grande parte da fibra da casca de soja corresponde à pectina.
Vantagens
A qualidade da fibra da casca de soja é a principal responsável pelo interesse no seu uso. A pectina é um carboidrato que compõe a parede celular, mas diferentemente dos principais componentes, a celulose e a hemicelulose, tem alta digestibilidade. Além disso, uma característica da sua fermentação bastante interessante para ruminantes é que ela mantém o pH ruminal mais estável e evitaria a produção de ácido lático, ajudando a manutenção de um ambiente ruminal mais propício à degradação da fibra e reduzindo a chance de desenvolvimento de acidose ruminal. Há ainda autores que defendem que a melhor degradação da fibra dietética como um todo para animais que recebem casca de soja em substituição a fontes de amido seriam independentes dos valores de pH.
Nutrição de ruminantes
Animais em pasto
O uso da casca de soja em suplementos para animais em pastejo tem se mostrado bastante interessante, com a obtenção de resultados melhores do que do milho ou outras fontes tradicionais de amido (milho, sorgo, aveia etc.), pois a rápida fermentação destes alimentos, a baixa estimulação para a ruminação e pequena capacidade tamponante intrínseca acabam por predispor um ambiente ruminal menos propício para a degradação da fibra. Já a pectina da casca de soja, apesar de sua alta taxa de fermentação e limitada capacidade de estimulação da ruminação, tem um bom poder de tamponamento natural.
A casca de soja, em função de suas características físicas, pode implicar em problemas no momento da mistura do suplemento, dificultando a obtenção de uma mistura homogênea dos ingredientes. Isso ocorre em função dela ser bastante leve por unidade de volume, ou seja, de baixa densidade. Outros problemas compreendem a distribuição da ração, a colocação no cocho e as perdas, todas também em função da baixa densidade deste alimento.
Confinamento
É interessante observar que os valores de nutrientes da casca de soja assemelham-se a uma dieta completa convencional de confinamento para animais em terminação com peso próximo a 400 kg. Todavia, o uso de mais de 30% de casca de soja em uma dieta pode acarretar em aumento da velocidade de passagem e reduzir a digestibilidade desta. Altas ingestões de pectina também podem predispor ao timpanismo espumoso, em que os gases produzidos no rúmen acabam "presos" em bolhas estáveis que se formam devido ao aumento da viscosidade do fluido ruminal. Há, entretanto, um fator individual importante que faz com que o problema, muitas vezes, se apresente apenas em alguns animais.
Os resultados da utilização da casca de soja em confinamento de gado de corte têm sido, a semelhança do uso em suplementos para animais em pastejo, igualmente bons. Na tabela 2, os dados de substituição do milho pela casca de soja em três níves, sem alterar o ganho de peso, comprovam isso.
Apesar da diferença numérica entre os diferentes níveis de substituição, estatisticamente elas são consideradas semelhantes e a conclusão do trabalho é que é possível substituir todo o milho por casca de soja, sem prejuízo para o desempenho. Como o milho é mais energético que a casca de soja, o fato da substituição não causar redução no ganho de peso é atribuído a um melhor aproveitamento da dieta como um todo.
No caso de confinamento, a baixa densidade da casca de soja também é indesejável, mas é bem mais fácil de contornar os problemas, especialmente porque ela é misturada com o volumoso.
Particularidades e uso
Casca de Soja Peletizada
Uma saída para minimizar o problema de baixa densidade da casca de soja é peletizá-la. Os peletes de casca de soja têm excelente consistência, ajudando bastante a reduzir custos com transporte e facilitando a distribuição do alimento. Nem sempre, todavia, essas vantagens são suficientes para compensar o maior custo.
A peletização é um processo que envolve, ainda que indiretamente, o aquecimento do alimento. Isso deve ser levado em consideração no momento de fazer a análise (Ver item "Análise Bromatológica e Estimativa de NDT").
Bromatológico e Estimativa de NDT
A casca de soja em si é um material bastante uniforme, quando consideramos que ela é composta apenas pela casca. Tanto é assim que muitos trabalhos para medir degradabilidade ruminal de alimentos usavam como padrão exatamente casca de soja. Os dados de desvio padrão da tabela 1, contudo, indicam que ao se tratar do subproduto comercial, isso não é verdade. Essa variação está bastante ligada à presença de partículas de grãos e fino (partículas muito pequenas) que variam em função dos métodos industriais envolvidos na produção do grão de soja e na do farelo de soja.
Em função disso, parece interessante que a determinação do valor nutricional de diferentes partidas de casca de soja sejam analisadas. As análises recomendadas para a casca de soja seriam matéria seca, proteína bruta, extrato etéreo, fibra detergente neutro e a proteína ligada a esta, proteína indisponível em detergente ácido, a liginina sulfúrica e minerais. Com estas análises, é possível estimar o valor de energia, como NDT usando uma equação conhecida como "Fórmula de Weiss" que leva o nome do pesquisador americano que a idealizou. Com seu uso, valores adequadamente acurados do teor de energia da casca de soja podem ser obtidos. Já com o uso de outras fórmulas mais antigas, resultados bastante equivocados podem ser obtidos. Houve até o caso de uma empresa que comercializava a casca de soja indicando um valor de NDT com dez unidades percentuais a menos que o valor de tabela e que eram exatamente as dez unidades percentuais a mais obtidas com o uso das concentrações dos nutrientes (% PB, EE etc) expressos no mesmo anúncio com a "Fórmula de Weiss"!
Atividade Ureática
Além do desafio da homogenização quando da mistura com outros ingredientes, a casca de soja pode também apresentar problema se misturada com uréia. Existe neste subproduto a presença da enzima urease que hidrolisa a uréia, liberando amônia (NH3), que volatiliza, com implicações na palatabilidade da mistura, cujo consumo pode até se tornar nulo, e na perda de nitrogênio. Na verdade, duas partidas diferentes de casca de soja podem ter valores bastante diferentes de atividade desta enzima ureática. Aquelas partidas com maiores quantidades de partículas de grãos seriam as com maior atividade ureática. Partidas com valores mais elevados de extrato etéreo e proteína seriam, portanto, as que teriam maiores riscos. O efeito de liberação de amônia, todavia, não é instantâneo e depende de muitos fatores, especialmente da atividade ureática e quantidade da casca de soja e a quantidade de uréia na mistura.
Dessa maneira, em poucos dias o problema pode se apresentar em uma partida com alta proporção de casca com elevada atividade ureática misturada com bastante uréia ou pode levar meses em situação oposta (pouca casca, baixa atividade ureática, quantidades modestas de uréia). Não existe a ocorrência freqüente deste problema, mas uma forma prática de constatar se ele poderá ocorrer e quanto tempo demoraria para se manifestar, é fazendo a mistura em pequena escala (copos descartáveis de plástico, por exemplo) com várias repetições, simular o tanto melhor quanto possível as condições de armazenagem e abri-las uma a cada dia, usando o olfato para tentar identificar algum cheiro de amônia. Se, por exemplo, sentimos a presença de amônia no quinto dia, pode-se programar a batida para cada quatro dias.
Considerações Finais
A casca de soja é um alimento que já tem seu uso relativamente bem difundido entre os produtores mais tecnificados, mas ainda não se tornou um ingrediente de todo comum. Como uma excelente opção para uso em suplementos e dietas com alto de teor de fibra e como mais uma alternativa em dietas de confinamento, é de se esperar uma consolidação da sua participação na nutrição de ruminantes. No momento, esta demanda latente, associada a uma conjuntura extremamente favorável à produção da soja, está resultando em preços bastante atraentes para os compadores. Pode-se inferir que haja crescente interesse em seu uso. Para este permanecer vantajoso economicamente dependerá da manutenção do aumento da demanda internacional por soja, bem como da conjuntura nacional ligada à produção de bovinos.
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Saiba por que utilizar a casca de soja na alimentação do rebanho
Tomando como base a importância do planejamento nutricional do rebanho, sobretudo nos períodos de baixa disponibilidade de forragens - bem como a participação da alimentação no custo de produção, a busca por alternativas de ingredientes oriundos de processos agroindustriais tem se intensificado.
Tais subprodutos devem apresentar características que possibilitem sua utilização na alimentação animal, reduzindo o custo final do produto animal e mantendo os índices de produção satisfatórios. Dentro deste contexto, fontes de fibra não forragem vem sendo alvo de estudos para serem utilizadas na alimentação de ruminantes.
Tradicionalmente as fontes de fibra não forragem têm sido utilizadas em substituição a fontes de concentrado, uma vez que possuem energia líquida relativamente alta e moderado teor de proteína bruta. Entretanto, situações em que existe baixa disponibilidade de forragem devido ao período de secas ou em sistemas de produção em que há limitação de área para produção de alimentos volumosos, as fontes de fibras não forragem se colocam como excelente alternativa em substituição parcial a alimentos volumosos.
Devido à importância da cultura da soja no agronegócio nacional e ao volume de material processado diariamente, a casca de soja surge como um resíduo agroindustrial bastante interessante para ser utilizado na alimentação do rebanho. Mais o que é a casca de soja? Do ponto de vista nutricional, quais as características que a tornam um ingrediente alternativo para ser utilizado na nutrição dos animais?
A casca de soja é a parte externa do grão, obtida por separação durante o processo de extração do óleo. Também conhecida como casquinha de soja, é comercializada na forma de casca (Figura 1) ou peletizada (Figura 2). Para cada tonelada de soja processada são produzidos 50 kg da casca de soja.
Figura 1. Subproduto na forma de casca
Figura 2. Subproduto na forma peletizada
Com relação à sua composição química, a casca de soja possui alto teor de fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA), mas baixa quantidade de lignina (em torno de 2%), o que pode resultar em uma digestibilidade in vitro de mais de 90%. A casca de soja pura (livre da contaminação do farelo de soja durante a sua obtenção) deve conter em torno de 9,4% de proteína bruta (PB) e 74% de FDN na MS, sendo 46% composta de celulose e 18% de hemicelulose.
A casca de soja é considerada por muitos autores como um ingrediente volumoso-concentrado, pois tem a função fisiológica de fibra vegetal e funciona como um grão de cereal em termos de disponibilidade de energia. Segundo o NRC (2001) a casca de soja apresenta 2,82 Mcal ED/kg de MS, enquanto que o milho apresenta 4,19 Mcal ED/kg de MS.
Além de possuir uma boa palatabilidade, a casca de soja proporciona um efeito positivo associativo quando incluída em dietas de alta proporção de forragem (mais que 50%), pois promove a manutenção do pH ruminal, não prejudicando as bactérias que degradam a fração fibrosa dos alimentos.
Considerando as características nutricionais da casca de soja, esta pode ser utilizada em substituição à forragem ou mesmo a ingredientes concentrados tradicionais, como o milho. Quando em substituição a grãos seu uso visa minimizar os impactos negativos que a alta ingestão de amido causa sobre o ambiente ruminal, como a redução do pH e a diminuição da degradação da fibra (HOOVER, 1986).
Quando utilizada como suplemento para animais mantidos em pastagens de qualidade moderada a baixa, a casca de soja pode substituir o milho ou o sorgo sem que ocorra queda no desempenho (ROYES et al., 2001; SANTOS et al., 2005). Isso ocorre porque mesmo possuindo concentração energética inferior ao milho, a quase inexistência de amido faz com que os efeitos negativos associados à redução da degradação de fibra e do consumo de matéria de seca de pasto sejam bem menores (ANDERSON et al., 1988).
Subprodutos fibrosos, de maneira geral, são mais ricos em energia do que os volumosos corriqueiramente utilizados (NRC, 2001). Desta forma, a adição de casca de soja na ração visa aumentar o consumo de energia e ao mesmo tempo manter o consumo de fibra. Além disso, subprodutos fibrosos possuem geralmente maiores teores de proteína bruta do que volumosos de baixa qualidade.
Além das características apresentadas até o momento, não podemos negligenciar o fato de que a casca de soja é comercializada na forma seca, sendo um material que não apresenta problemas de conservação e pode ser armazenada em grande quantidade para ser utilizada na propriedade ao longo do ano.
Outro fator que merece atenção especial se refere ao fato de que por se tratar de um subproduto, sua disponibilidade se concentra em determinadas épocas do ano e em regiões onde se encontram as unidades processadoras, portanto, o valor do frete deve ser considerado no preço final do produto.
Tendo em vista suas características e vantagens econômicas, a casca de soja tem sido alvo de diversos estudos, com a finalidade de verificar o seu benefício sobre o desempenho animal (consumo de matéria seca, ganho de peso, conversão alimentar, produção e composição do leite), digestibilidade dos nutrientes, parâmetros ruminais, atividade de mastigação, bem como a sua relação com a degradabilidade ruminal da fibra oriunda de forragens. No próximo artigo serão apresentados resultados de diversos trabalhos em que a casca de soja foi estudada como fonte alternativa de alimento em substituição a ingredientes concentrados e volumosos.
Literatura consultada
HOOVER, W.H. Chemical factors involved in ruminal fiber digestion. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 69, n. 10, p. 2755-2766, 1986.
ANDERSON, S.J.; MERRIL, J.K.; McDONNELL, M.L.; KLOPFENSTEIN, T.J. Soybean hulls as an energy supplement for the grazing ruminant. Journal of Animal Science, Champaign, v. 66, n. 11, p. 2959-2964, 1988.
ROYES, J.B.; BROWN, W.F.; MARTIN, F.G.; BATES, D.B. Source and level of energy supplementation for yearling cattle fed ammoniated hay. Journal of Animal Science, Champaign, v. 79, n. 5, p. 1313-1321, 2001.
NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrient requirements of dairy cattle. 7th ed. Washington: National Academic Press, 2001. 381p.
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